Site compara forró de Emanoel Gurgel e Isaías Duarte


Dois empresários cearenses são os responsáveis pelas reviravoltas no mercado forrozeiro. Cada um em sua época, e dentro das limitações. O primeiro é Emanoel Gurgel, 61 anos, criador do forró “estilizado”, no início na década de 1990, e fundador da banda Mastruz com Leite e dos outros grupos que vieram em seguida: Cavalo de Pau, Mel com Terra, Catuaba com Amendoim, Balaio de Gato, Calango Aceso e outras.
O segundo, é Isaias Duarte, 39 anos, que criou empresa A3 Entretenimento, a partir dos anos 2000, e estreou novo formato de gestão das bandas-empresas de forró. Ele é o nome por trás do Aviões do Forró, Solteiroes do Forró, Dorgival Dantas, Forró dos Plays, Forró do Muído, e outras.
Na chamada primeira geração, o ritmo estava em fase de projeção a nível nacional. De 1995 a 2000, Emanoel Gurgel controlava toda a cadeia produtiva do forró. Ele era dono do sistema SomZoom Sat, com mais de 100 rádios espalhadas pelo Brasil, estúdio de gravação, editora, fábrica e distribuidora de CDs. E dominava as casas de shows de Fortaleza, além de ser proprietário das lucrativas bandas-empresas.
“Conseguimos envolver do início da produção até o produto final. Nessa época as bandas trabalhavam com cachê pré-fixado”, conta Gurgel. Também introduziu o costume de cantar o nome da banda no meio da música. “É o forró Mastruz com Leite”.
Com a chegada da pirataria, nos anos 2000, o negócio de discos no país enfraqueceu, levando junto os grupos de forró. Foi aí que surgiu outro nome, o Isaias CDs, que observou as carências da época e abriu uma empresa no prédio onde funcionava a SomZoom. “Trabalhei como zelador durante cinco anos e fiz café para o Emanoel Gurgel. Entrei na empresa, começei limpando o chão, e hoje sou dono. É uma bênção de Deus”, explica o proprietário da banda Aviões do Forró. “Eu conhecia as falhas que haviam e quis sair da mesmice”, completa.
Os cearenses trouxeram inovações significativas para o que se chama forró moderno, incluíram novidades, deram vozes aos artistas e fortaleceram a bandeira do ritmo no Nordeste e em todo o Brasil.
ENTREVISTA EMANOEL GURGEL
Como surgiram as bandas e o estilo na década de 1990?
Vamos fazer 25 anos de estrada em 2015. Eu gostava muito de dançar forró. Antigamente eram comuns as bandas de baile. Elas tocavam apenas 4 a 5 músicas de forró no repertório. Percebi que o salão ficava lotado e quis criar uma banda só de forró. Fui conversar com uns amigos da BlackBanda, e eles não aceitaram, acharam brega tocar forró, e que não daria certo. Então acertei com a Aquarius, mas coloquei músicos com cabeça da Blackbanda. E não funcionou. Aí pensei: vou pegar pessoas humildes, que não tenham vergonha. E foi assim que surgiu a Mastruz com Leite. O baterista trabalhava com material de construção, o baixista era de uma padaria, o cantor, era catador de osso nas estradas, e Kátia Cilene venceu um concurso para vocalista aos 15 anos.
Você acredita que este forró seja autêntico?
Existem as coisas artesanais e as feitas industrialmente. Nunca o folclore vai deixar de existir. Mas também é preciso haver evolução. Exste dois tipos de forró, o de Luiz Gonzaga para atrás e o de Emanoel Gurgel para frente. Mas a evolução é parte natural da vida. A zabumba, o triângulo e sanfona não atraíam público. Tenho atividades comerciais, não sou artista, sou dono da empresa e tenho a mercadoria chamada música. Uma obra de arte também pode ser um negócio. O forró é um ritmo que permite variações, se misturou com a salsa, com ritmos do Rio Grande do Sul, o vaneirão, mais recente com o sertanejo.
Nesses 24 anos houveram crises? Por que o Forró das Antigas sobrevive?
Tiveram oscilações. Mas o forró sempre permanece. Porque tem melodia, letra, são músicas que dão no pé e no coração. Unimos o filho, pai e avô no mesmo show. Além do Mastruz com Leite, só quem consegue isso é o Chiclete com Banana e Roberto Carlos.
ENTREVISTA ISAÍAS DUARTE
Quais as mudanças eram necessárias em relação as bandas-empresas da época?
Observava muito as falhas das bandas, a maneira que os artistas se apresentavam. Todo mundo se imitava muito. O som ainda era muito regional, não tinha abrangência de tocar em outros clubes, precisava mudar a metaleira e teclado. No balé, as meninas não eram tão bonitas e se vestiam nuas. Hoje digo para elas se vestirem como quem vai ao shopping, com maquiagem leve e roupa bonita. Ser patricinha no palco, não ser vulgar e sim sensual. E todas as bandas estão se adequando a esse modelo que criamos aqui. Também passamos a conduzir os artistas para que eles se apresentassem como estrelas. Nossos cantores estão sempre bem vestidos em qualquer lugar. São pessoas agradáveis e se comportam como artistas igual a qualquer outro ritmo. A Solange é um exemplo. Uma mulher de 120kg, não se vestia bem, hoje pode ser colocada ao lado da Claudia Leitte, Ivete Sangalo, Sabrina Sato. Sempre bem vestida, produzida. Antes elas se vestiam de qualquer jeito, era um Deus nos acuda. Os artistas chegavam para o show numa kombi ou van. Hoje nos preocupamos com cada detalhe da estrutura. Queria que todos vissem o forró como algo grande e não como pequeno. Levamos os shows para locais onde ninguém nunca queria colocar forró.
A partir daí, quais foram as estratégias de divulgação? Como funciona o mercado do forró atual?
Com a chegada da pirataria, não era mais tão importante investir em CD. Então fizemos o CD e distribuímos para o povo, o original. O valor voltava na bilheteria. Essa estratégia de divulgação fez com que o forró crescesse muito mais. O CD virou moeda de troca e o cartão postal do grupo. Isso foi absorvido para todos ritmos. Hoje são 600 e tantas bandas de forró. Sempre aparece uma música boa atrás da outra. E o público aderiu a isso. Sabemos que daqui a três meses vai aparecer outra, que vai ganhar uma proporção maior que a outra, e assim sucessivamente. Por isso, criei na minha empresa um sentimento que a gente nunca pode parar no tempo. Vivemos como se a banda tivesse nascido hoje.
Como recebe as críticas dos defensores do “forró tradicional”?
Essas pessoas não percebem que o mercado mudou e elas não conseguiram acompanhar. Há muitos artistas desse gênero que são bons e não conseguiram evoluir. De Luiz Gongaza pra cá tudo mudou. A população inteira é outra. Hoje o forró vem crescendo porque acompanha essa evolução do mercado. Nas letras, na pegada, no som, na quantidade de público. Colocamos 30 mil pessoas para assistir a uma banda. Demos uma repaginada geral nos produtos. E o forró não chegou ainda em 60% do potencial que tem. Vamos chegar para o mundo todo. Artistas como Elba Ramalho, Alcymar Monteiro, Flávio José, Waldonys, se renovam sempre. Mas se eles conseguissem quebrar a barreira que tem contra a gente, de achar que não é verdadeiro o forró que fazemos, eles iriam mais longe. Respeito muito esses artistas e acho que eles também deveriam respeitar o forró de hoje. Pois se fosse depender só deles, ninguém escutava mais. Além de movimentar as novas bandas, o Aviões conseguiu abrir caminho para antigos nomes. O Dominguinhos elogiava muito o Aviões, e ser elogiado por ele, é o mesmo que receber o aval do finado Luiz Gonzaga.
Fonte: Diário de Pernambuco

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